27.11.15

Série "Falling Into You" - Estreia


FALLING INTO YOU

EPISÓDIO 1
LISBOA.
Era segunda-feira de manhã e o ambiente estava caótico na OnFilms. Naquele dia acontecia a estreia do primeiro grande formato de entretenimento produzido por Ricardo e Mariana. Tratava-se de um talk-show diário, com a apresentação de Rui Maria Pêgo. Passavam poucos minutos das 9h00 e Ricardo estava agora na régie ao lado da colega.
- O programa fecha com a atuação do Carreira – revelou Mariana, enquanto bebia um gole de café.
- O que eu tenho de aturar… Não tinham convidado musical melhor para o programa de estreia? – acrescentou Ricardo, enquanto revia o alinhamento.
– Oh querido, pensa positivo… Pelo menos tens um David Carreira na sua melhor condição física para poderes apreciar ao longo de toda a emissão. Aqueles músculos, aqueles abdominais…
Ricardo pegou na sua chávena de café e levantou-se, dirigindo-se em direção ao lado oposto da sala.
- Já devias saber que não gosto de misturar trabalho com prazer – acrescentou o rapaz. Mariana olhou para ele com ar de reprovação. - É verdade! O Manel também me dizia o mesmo…
****
LONDRES.
Manuel saiu de casa um pouco depois das 9h30. Devia ter entrado às 9h, mas não conseguiu. Na verdade, agora que se encontrava sentado no Metro, nem sequer pensava em ir à empresa. A noite começara com um simples jantar entre colegas e acabava numa tórrida noite de sexo com um deles. Manuel tinha traído Ricardo. Era esta a ideia que não lhe saía da cabeça. E o pior é que o sexo tinha sido intensamente bom. Marcelo era seu colega de trabalho há dois meses e desde que o conhecera a atração física mútua era inegável. Contudo, nunca pensou que se viesse a envolver com ele. Já tinha reparado no corpo musculado e bronzeado do seu amigo brasileiro, um verdadeiro oásis no meio de um deserto repleto de homens ingleses. Não é que não fossem bonitos, mas para Manuel um homem bronzeado e tipicamente latino era muito mais atraente.
“Foi a melhor transa da minha vida, temos que repetir, cabrãozinho”, disse Marcelo, no final do ato, de uma forma completamente excitante. Depois de ser penetrado por Marcelo e de ter sentido o seu esperma invadir todo o corpo, deixaram-se ficar naquela posição durante vários minutos, em conchinha, completamente nus, com o pénis de Marcelo encostado ao rabo de Manuel. Tinha sentido o seu pau volumoso na boca. Tinha sentido o seu corpo suado a tocar-lhe na pele. Até o cheiro a suor do amigo brasileiro o excitara.
Naquele momento, Manuel não pensava em mais nada, apenas naquela foda magnífica que tinham vivido. Do suor, dos cheiros, da ação, dos beijos, dos toques, das carícias, das frases, do tom agressivo e ao mesmo tempo carinhoso de Marcelo. Não fazia sexo com ninguém há vários meses, desde que tinha vindo viver para Londres. Gostava de Ricardo, amava-o como ninguém. E agora, cinco horas depois daquele momento com Marcelo, Manuel continuava excitado com tudo o que tinha acontecido na noite anterior, mas não conseguia deixar de pensar em Ricardo. O que iria dizer ao namorado?
****
– O Manel? Vais mesmo querer falar nisso? – disse Mariana, rindo-se. - O Manel faz tanta falta na tua vida como uma aula de zumba na minha!
– Mas olha que até danças bem!
– Cala-te…! Tens falado com ele?
– Tenho… E estou a ficar cada vez mais encurralado.
– Tens noção que ele me continua a perguntar por ti… Com quem andas… O que fazes…
– E tens noção que isso ainda me deixa mais ansioso? Às tantas acho que eu é que sou um monstro insensível e que nem sequer devia continuar com esta relação – disse Ricardo, olhando para a foto de Manel que ocupava o seu ambiente de trabalho no computador.
– Ora, isso foi o que eu sempre te disse.
Teresa, a rececionista, entrou na sala, sem bater à porta.
– Meninos, está lá fora o novo estagiário – avisou.
– Boa! Quem é que o escolheu? – perguntou Ricardo.
– Fui eu – disse Mariana. - Tu vais adorá-lo – concluiu Mariana, tocando no peito de Ricardo.
****
Quando Ricardo chegou à receção da produtora, Pedro estava sentado, observando a azáfama que já se vivia por ali, apesar de ainda ser cedo. Era um rapaz jovem, mas bem constituído, musculado (realçando isso mesmo com a sua t-shirt justa que trazia vestida). Ricardo dirigiu-se até Pedro, que se levantou. Cumprimentaram-se com um aperto de mão.
- Prazer em conhecer-te, Pedro. Sê bem-vindo à nossa produtora.
- Obrigado. Espero que me dê bem por aqui.
- Tenho a certeza que sim. Mas prepara-te para começares já com muito trabalho!
- Pois, eu sei. A sua colega…
- A ‘tua’ colega… - disse Ricardo, sorrindo.
- Ou isso, a tua colega Mariana já me explicou tudo.
Foram os dois até ao escritório do diretor de produção. Estavam a ultimar os pormenores sobre o estágio de Pedro. Enquanto Ricardo falava, Pedro reparou na foto do seu computador.
- Quem é? – perguntou.
Rapidamente percebeu que não deveria tê-lo feito.
- Desculpa, não queria intrometer-me…
- Não tem mal... Esse é o Manel. É meu namorado.
Pedro percebeu, na forma amarga como Ricardo se referiu a Manuel, que algo se passava. Mas mais do que isso, confirmou aquilo que o olhar indiscreto de Ricardo lhe tinha contado: ele era gay ou bissexual.
****
Passaram algumas horas. Pedro estava sozinho à entrada da produtora a fumar, num momento de pausa. Lá fora chuviscava e ele estava abrigado debaixo do alpendre, à entrada. Estava a pensar nos próximos tempos que se aproximavam. Aquele estágio era tudo o que sempre sonhara. Tinha que dar tudo por tudo para que ao fim dos 2 meses ficasse a trabalhar definitivamente na produtora. Ou pelo menos que conseguisse o estágio profissional. Já tinha pensado que estaria disposto a tudo, até a usar os seus melhores atributos. Sabia que naquele mundo, ser bom não bastava. Era preciso cunhas, conhecimentos…
Apesar de ter apenas 23 anos, sempre parecera um pouco mais velho. Era um rapaz bastante cuidadoso com a imagem. Pensara que talvez pudesse atrair a sua chefe ou uma das responsáveis do canal. Trair a namorada, Mónica, que ficara no Porto, não seria nada de especial. Mas agora percebera que o seu verdadeiro alvo era Ricardo. Pedro não era gay, nem sequer bissexual. Mas não seria nada demais para si envolver-se com Ricardo para garantir um emprego. Aliás, já imaginava de que forma o iria abordar, como iria pô-lo a fazer-lhe um broche ou como iriam bater uma punheta em conjunto.
- Mónica, não faças um drama! – advertiu Pedro, ainda que  num tom baixo para que ninguém ouvisse. Estava há mais de 10 minutos a falar com a namorada ao telemóvel - Tenho de agarrar o meu trabalho com todas as forças. Já te tinha explicado que isto está em primeiro lugar. A pessoa que me está a chefiar está claramente interessada em mim e eu não vou deixar escapar isso. Vou fazer de tudo para conquista-la. A questão é: ou aceitas que eu o faça e deixas-me viver a vida durante 9 meses sem justificações ou acabamos tudo e cada um segue a sua vida. O que queres?

Enquanto Pedro dizia aquilo à namorada por telefone, uma pessoa ouvia a conversa sem este saber. Estava chocada com o que ouvia. Como era possível um miúdo fazer aquilo à namorada? E obviamente que ele estava a falar de Ricardo! Tudo lhe parecia irreal, mas uma coisa era certa: Mariana, que acabara de ouvir tudo, não iria deixar que Pedro enganasse Ricardo. A guerra começava nesse momento.

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